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Ser designer gráfico em Salvador não é apenas uma profissão. É resistência. É estratégia. É arte colocada todos os dias em função de um mercado que muitas vezes não valoriza o processo, apenas o produto.
Foto: Arquivo Pessoal. Registro de quando trabalhava com meu pai em Cruz das Almas, era nessa mesa onde tudo acontecia!
Sou nascido e criado em Cruz das Almas, interior da Bahia. Uma cidade que vive seu grande giro econômico durante o São João, onde a cultura pulsa e a economia gira. Em Salvador, a diferença é o tamanho. O carnaval movimenta bilhões, mas a dura realidade é que, fora desse período, muitos profissionais criativos sobrevivem como podem.
Cruz das Almas se preparando para receber turistas
Foto: Alfredo Filho / Secom – Carnaval de Salvador
Nesse contexto, o designer é muitas vezes tratado como um quebra-galho. Alguém que resolve rápido, entrega bonito e cobra pouco. E agora, com a inteligência artificial dominando manchetes e timelines, a pressão é ainda maior: “pra quê pagar um designer se a IA faz?”.
Mas o que a maioria esquece é que a IA, por mais avançada que seja, não tem repertório de vivência. Não sente o calor do mercado de rua, o som do pagodão que invade as vielas, nem o peso histórico de um logotipo para um negócio de geração em geração.
O trabalho de um designer vai além da estética. É estratégico. É humano. É empático. É ele quem traduz ideias, cria pontes entre a visão do cliente e a percepção do público. Quem conhece o olhar do bairro, a ginga da linguagem, o ritmo do consumo local.
Trabalho feito para Sport Web Brasil
A inteligência artificial pode sugerir cores, frases, até mesmo layouts. Mas não sabe o que é crescer vendo faixas pintadas na rua, sentir orgulho de uma arte bem feita na própria comunidade. Ela não entende a lida de quem tem que criar, entregar e ainda explicar o valor do seu trabalho.
Desenhos de rostos de artistas baianos feitos por grafiteiros em muro viram atração no bairro da Barra, em Salvador — Foto: Alan Tiago Alves/G1
Portanto, se você é empreendedor, dono de agência, pequeno ou grande negócio: valorize o designer local. Ele não é só um operador de software. Ele é parte da sua estratégia. É um tradutor visual da sua cultura. É um profissional que, mesmo diante da pressão da tecnologia, continua criando com alma.
E pra quem, assim como eu, vive esse corre: continue firme. Seu talento não é substituível. Sua história, muito menos.
Criar aqui, na Bahia, é resistir. E resistir com design é criar futuro.
Foto: Crisna Pires