Em pleno 2023 e muita gente ainda confunde o trabalho profissional de um design com de um publicitário e muitas vezes passam despercebidos em propagandas ou campanhas. Por esse motivo resolvi escrever essa matéria e destacar o verdadeiro papel do designer gráfico dentro das grandes estratégias de negócios!
É muito comum as pessoas acharem que o papel de um designer gráfico é apenas criar um simples cartão de visita, um banner de internet, um cartaz ou um folder para impressão, tipo gráfica rápida. Sim, tudo isso faz parte do leque de serviços de um designer gráfico, porém, não é como um serviço de gráfica rápida que eu assimilo muito com o delicioso “caldo de cana” mas eu costumo sempre falar isso com meus clientes “construir peças gráficas não é como fazer caldo de cana, onde coloca de um lado e sai do outro” principalmente quando se trata em criação de marca, que é o meu caso.
Você já parou para pesquisar ou perguntar o que é design? Para que serve? Como posso agregar o design nas estratégias de negócios da sua empresa?
Bom, eu posso te afirmar que tudo que você respira hoje dentro de uma empresa, é design. Desde a recepção até a produção. Vou dar exemplo de uma clínica hoje, não precisa ser uma grande clínica, pode ser a mais simples, uma pequena clínica odontológica. Imaginem comigo, observem que ao chegar, você tem a marca da empresa ou do profissional que atende naquela clínica, estampada na porta. Depois que você entra, você encontra uma sala com cadeiras bonitas, com tapetes, com móveis decorativos e funcionais, tv, livros e um ambiente totalmente equilibrado com cores de acordo a marca que você viu, estampada na porta. Tudo isso é trabalho de um designer, seja de serviço, seja de interiores ou como da cadeira que você viu ou sentou, com certeza ali foi um designer de produto que desenvolveu.
A exemplo das cadeiras acima, criadas pelos irmãos Campana. Uma dupla de designers brasileiros reconhecida internacionalmente por seus trabalhos de Design-Arte, cuja temática discute elementos do cotidiano, ou simplesmente produtos sem nenhum valor, que são transformados em peças de caráter artísticos, com uma linguagem única e de, até, uso possível.
Mas onde entra o design na estratégia de negócios para minha empresa? É como eu tenho dito acima, o design está em tudo, mas vamos lá, vou dar um exemplo de como o design pode atuar na estratégia de negócios da sua empresa.
Vamos supor que você esteja começando um novo negócio ou esteja querendo mostrar sua marca para o mundo, vender, ter sucesso e transformar seu negócio em um grande exemplo a ser seguido. Bom, para começar, nem preciso dizer que o papel do design já começa desde a criação da marca né? Sim, diferente de criar a marca nesses sites que vendem marcas prontas, um designer gráfico profissional tem a capacidade de desenvolver uma marca para sua empresa de acordo suas necessidades como profissional e com base nos objetivos do seu negócio, não é igual o caldo de cana que bota de um lado e sai do outro. Para se construir uma marca forte, é necessário uma série de pesquisas, de estudos tipográficos, de pesquisa iconográfica, de estudo de cor. Tudo isso para apresentar ao cliente e ele simplesmente dizer “poderia trocar essa fonte por outroa?” como se fosse um passe de mágica ou pelo fato de estarem todos acostumados com o Word, que pode editar um documento e trocar a fonte para ver como fica rssss na criação de marca não funciona assim.
Sim, como eu disse, logo de cara, o designer gráfico já tem um papel fundamental que é na construção da marca, ou seja, na alma da empresa.
Além da marca, existe a forma como a marca vai se comunicar com o público alvo. De que forma a marca pode se expressar para chamar atenção dos clientes? Sim, aí está uma das partes, senão a parte mais importante do design. Mostrar para o mundo o comportamento daquela marca, suas expressões, preferências, tipo de público e a melhor forma para consumir. Seja um hambúrguer ou uma cadeira, seja um livro ou uma cafeteira, uma escova de dentes ou uma peça gráfica, seja num simples espremedor de laranja. Hoje o design está em tudo que você vê ou consome, desde as embalagens até sua forma de comer, de beber.
Acima está o Juicy Salif, o espremedor de laranja do Philippe Starck. Espremer um limão antes de 1990 era uma coisa. Mas depois que Philippe Starck inventou o Juicy Salif, nenhuma limonada foi mais a mesma! O designer francês, hoje um dos mais respeitados no segmento, já trabalhou para a Adidas, projetou prédios, restaurantes e hotéis incríveis, fez um iate para Steve Jobs… no entanto, foi num insight enquanto comia lulas em um restaurante e espirrava limão sobre elas que nasceu um dos objetos mais icônicos de sua carreira: um simples, porém genial, espremedor de frutas. A peça foi vendida para a marca italiana Alessi – e foi recorde de vendas.
O design tem sido cada dia mais importante para o dia-a-dia das empresas. Por isso é necessário a construção de um belo branding book, calma, não, o BB não é manual de identidade visual ou manual de uso da marca, é bem diferente. O branding é um serviço a parte, no qual o designer gráfico atua criando estratégias de fortalecimento da marca para o consumidor. O mercado vem se modificando diariamente, todos os dias existe uma nova forma de comer, de se vestir, de assistir tv, de ler um livro, de ver filme, de ver notícias e até de socializar. Por isso também é de fundamental importância o trabalho das agências de publicidade, porque o designer gráfico cria e dá as diretrizes, o publicitário pega a ideia e vende. Um não anda sem o outro!
Tava aqui pensando em um exemplo mais atual para citar aqui nesta matéria. Vou falar do Pó Royal, quem for da minha época vai lembrar daquela latinha de fermento em pó ehehe
Presente no país desde 1923, a Royal é uma marca símbolo de tradição nas cozinhas brasileiras. Responsável por ter trazido para o lado de cá uma das primeiras gelatinas e pudins do mercado, a Royal Baking Powder Company já atuava em mais de 30 países antes de aportar em terras tupiniquins. No entanto, bastou colocar os pés por aqui para fazer sucesso e logo abrir a sua primeira fábrica brasileira na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.
Conhecido pela sua latinha de metal vermelha, o pó Royal sempre optou por fazer poucas mudanças em sua identidade original. Nos dois momentos em que a empresa fez alguma alteração na embalagem, foi apenas para substituir o seu tamanho e seu material, que desde o começo dos anos 2000 passaria a ser de plástico. Em outro momento, de olho nas necessidades de quem utilizava o seu fermento, a empresa colocou uma espécie de medidor em suas tampas, ajudando (muito) aqueles que procuravam se aventurar na cozinha.
Já o rótulo manteve-se praticamente intacto, com o plano de fundo vermelho clássico com alguns adornos azuis nas laterais e uma tipografia serifada, quase vintage. Algo que seria mantido até mesmo em seu primeiro redesign, em 2013.
Depois de mais de 9 décadas, finalmente a Royal resolver lançar um redesign de sua conhecida embalagem em 2013. No entanto, a empresa foi bem perspicaz ao planejar esse trabalho.
Por entender que sua marca já fazia parte da cultura popular do país, a Royal primeiramente fez uma pesquisa com seu público para saber se ainda estava conversando corretamente com as novas gerações. Além disso, nessa mesma pesquisa, a marca procurou saber o que deveria mudar e o que deveria continuar dentro de sua identidade visual para que não houvesse um grande choque após o redesign.
Como resultado dessa pesquisa, a Royal lançou pouco tempo depois um novo desenho que manteve a “aura” vintage da empresa, com traços que remetiam aos produtos da década de 1950, justamente por entender a importância de se manter fiel ao seu público. Uma nova versão para um antigo produto que planeja aumentar em até 17% as suas vendas com essa nova abordagem visual.
Bom , acredito que deu para entender um pouco sobre a verdadeira importância do design dentro da sua empresa ou do seu negócio. Não é simplesmente criar uma peça, é transformar ela em objeto de desejo. Para isso é necessário uma boa estratégia e muito planejamento!